sábado, 20 de setembro de 2014

O homem boto

Era o SENHOR, do barracão,dono do seringal e das pessoas que para ele trabalhavam.Como se diz no Amazonas, "bonito que só". Sedutor, generoso, para os padrões daquela gente, subserviente,o patrão,era dadivoso também no amor que distribuía igualmente entre as mulheres do seringal.
Bonitas ou feias, brancas, negras, pardas, altas ou baixas, gordas ou magras, afilhadas ou velhas comadres, o homem boto, fazia cada uma se sentir especial.
Isentas, só a avó, filhas e irmãs, pois não era incestuoso.
Além da prole numerosa com a bela esposa, deve ter deixado muitos descendentes às margens do Juruá,ou dentro de seus igapós e lagos; sim, porque para aquele ser quase mitológico, não havia obstáculo que não fosse vencido, para conseguir o objeto de seu desejo.Os frutos, que ficavam pelo caminho, eram criados pelos compadres, que acertavam contas no caderno de dívidas do seringal, aonde novamente o "generoso"patrão os traía.
    Os segredos da conquista morreram com ele o homem boto, que amou intensamente a vida e as mulheres, não divulgava seus truques de sedução; trazia no semblante um ar de triunfo cínico e encantador e deixava nas mulheres, uma alegria natural de satisfação.Iam todas para o porto, e cada uma em sua tábua de lavar roupa, partilhavam a alegria de uma noite de amor com o homem boto.Algumas ouviam maravilhadas pois já haviam vivido essa realidade; outras timidamente aguardavam,a sua vez pois sabiam que a noite delas também chegaria; e assim seguia a vida naquele seringal às margens do Juruá.
   Um dia o boto se foi, virou homem da cidade grande, deixando infelizes e solitárias comadres e afilhadas,amigas e primas, todas guardando na lembrança a noite de amor e êxtase vivida com aquele homem único ou seria o boto?   

                                     ( Ma. INÊS CORRÊA PEREIRA)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Maria Inês Pereira. Tecnologia do Blogger.