segunda-feira, 11 de agosto de 2014

A BABÁ / O RETORNO

 ( continuando )

  •    Trabalha como babá por cerca de um ano, e aí pode sentir na pele, o quanto é forte o poder do dinheiro dos que ascendem socialmente por esse viés. Como a "generosidade"dessas pessoas, é pautada em hierarquia; ou seja nada podia "macular" o pedestal dos patrões. Esses no seu reino, espaço jamais violado pelos empregados. A condição de babá lhe favorecia dormir no quarto da pequena, mas sempre vestida com ridículos uniformes, comer o que sobrava depois de todos terem se alimentado; sem nenhum direito além de uma folga de 15 em 15 dias. Tratamento, Dr.para os homens, madame ou senhora para as mulheres. Perdeu até o próprio nome, pois quando era solicitada, a madame tocava uma sineta de prata que estava sempre ao seu lado ou chamava simplesmente "babá". Babá, não tinha sexo, sonhos, não podia namorar, porque não tinha folga.Continuou a estudar até completar o cientifico, o que lhe permitia uma tímida participação na efervescente vida estudantil da época, escrevendo artigos  para os jornais do colégio; artigos esses que não agradava em nada as forças opressoras do movimento militar que a tudo policiava.
  • O Rio de Janeiro, nas décadas de 60/ 70 era o centro dos acontecimentos do Brasil. Nunca a efervescência cultural foi tão grande, na música, no teatro, cinema, os artistas, cineastas, teatrólogos, intelectuais, respondiam a repressão com alma criadora jamais vista, e a jovem amazonense, como todos os jovens daquela época , soube apropriar-se dessa cultura construída sob a força da opressão com grande competência. Esse conhecimento amplo, idéias construídas com muita análise e escuta, iriam num futuro próximo fazer a diferença.
  • A inquietude melancólica perseguia a então jovem adulta, que sabia o que queria: retornar ao seu chão e a sua gente. Agora adulta, e autora de seu destino, começaria a reescrever a própria história, e dar um novo sentido à vida.Agora sem tutelas,sem censura sem patrões.
                                ( Maria Inês Corrêa Pereira )

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