quarta-feira, 6 de agosto de 2014

A complicada adolescência

O tempo passava e a menina crescia, na escola como em casa, falava pouco, destacava-se nas produções escritas, e isso chamava atenção dos professores, não só de língua portuguesa mas também de outras disciplinas da área humana; sempre que tinha oportunidade de expressar-se o fazia com relativa correção e liberdade de expressão, isso levou os professores a solicitá-la mais oralmente e isso foi bom  para sua tão baixa autoestima.
Amigas , nenhuma, no máximo colegas da hora do recreio, sim naquela época o nome era recreio. Vale a pena registrar aqui o  papel que teve a televisão nesse período pleno em solidão. A TV era a grande companheira nas horas de folga,fornecia o material necessário às divagações e sonhos impossíveis; dessa forma, escolhia entre os artistas, um casal para serem seus pais, irmãos, dava-lhes os nomes de sua família distante, de seus pais já falecidos, durante muito tempo transportou-se pro cenário do seriado americano "PAPAI SABE TUDO", imaginava-se naquele lar, com aqueles pais atenciosos, criava situações, apaixonava-se verdadeiramente por astros da música jovem da época, mas ao contrário das tietes de hoje, não gritava ao mundo o seu amor, como todo o seu ser esse era um sentimento contido, só seu, ninguém entenderia.A TV, e a vida imaginária eram assim sua única alegria.
     A adolescência acabaria de vez, com o que restava dessa  quietude, a rebeldia contida explodiu,a vontade de libertar-se; a busca de si mesma,geravam conflitos insuportáveis, que aliados a efervescência dos acontecimentos da época, ( movimentos estudantis, repressão militar, festivais de música, jovem guarda, Beatles, Tropicália ), fomentavam uma enorme vontade de buscar outras alternativas de vida, beber em outras fontes; não havia mais condição de permanecer com aqueles familiares, sem culpar ninguém e sem sentimento de culpa; retira-se para buscar o que nem ela mesma sabia em outra família.
  Agora, crescida, o parentesco mais próximo, talvez isso a aproximasse mais daquelas pessoas. Pediu abrigo, foi acolhida com reservas...Dezesseis anos ou pouco mais,porém pensava como adulta, sabia que pra ter teto e comida tinha  que contribuir, esmerou-se em ajudar nos afazeres domésticos. As duas partes mesmo sem firmar acordo sabiam que "uma mão lavaria a outra", mas jamais a relação entre entre adulto e adolescente poderia ser igualitária não seria naquele lar e naquelas condições que isso iria acontecer; a relação dominante x dominado viria a cristalizar-se, mais por culpa da baixo autoestima em que mergulharia a caboclinha por longos anos,não reagia, sentia-se sempre devedora,murchava a cada dia, quando deveria estar desabrochando para vida.As necessidades básicas eram providas por um irmão que de longe a judava com dinheiro para transporte, compra de pequenas necessidades de uma jovem.A medida que se desenvolvia fisicamente, criava em torna de si a capa da introspecção, que a levou a um estágio depressivo
jamais dividido porque ninguém a sua volta importava-se o suficiente para perceber a gravidade, a jovem amazônida venceu a tentação das drogas, da prostituição e do suicídio. Talvez tenha sido essa sua grande vitória.
Mais uma vez, sente-se encurralada: sonhava, nada realizava, não encontrava emprego e ia empurrando uma situação, cujo único ganho ainda era a escola, que nesse tempo já frequentava a noite,e onde começou a se relacionar verdadeiramente com os jovens, que como ela ralavam na vida e tinham consciência política e social do mundo em que viviam.
A medida que se encolhia do mundo que não a fagava, crescia intelectualmente, mergulhava nos livros, e encontrava ali uma forma de diálogo com poetas, filósofos, pensadores.Destacava-se na escola, ganhava prêmios, porém era mais um êxito solitário, em casa, nada comentava com medo da indiferença..
    Nova ruptura,novos conflitos externos e internos, sem culpados sem algoz definido, pelo contrário, todos deixaram de uma forma ou de outra a marca da sua humanidade, que a jovem soube aproveitar na busca de sua humanização. Seu grande algoz foi a orfandade, a falta de parâmetros de uma família organizada e sua, a falta de um verdadeiro LAR

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Maria Inês Pereira. Tecnologia do Blogger.